O céu é claro, é escuro, é noite, é frio, é vento frio, é vida fria, é vida boa, é céu bom
O ar é ar de vida, é ar de mundo, é ar de mato, de chão, é o fim das montanhas, é ar de vida antiga
A cidade é vaga, é rala, é fraca, comum e cega bem como todas essas de minha terra. A cidade pouco importa, o ar é grande, maior.
O céu agora é cheio, nuvens brutas e macias, corações brancos de céus insanos como nossas mentes, como nossos amores, como a deveria a vida ser, assim, bruta e macia, cheia de amores macios e brutos, com moças doces e macias.
À esquerda o sol abaixa-se, à direita nuvens põem-se juntas em frenesi de pré-guerra, preparam-se para botar todas suas armas céu a baixo, água e luz, a lavar este chão; será preciso muita água, anos de água, séculos de água, uma vida de água e luz, uma vida longa, longa como a de deuses. Ao centro, luz e nuvem, resquício de sol, resquício de nuvem. O campo é grande, a vida curta.
A noite é clara, gritos da guerra ecoam em forma de luz na parte escura da noite, relâmpagos, estrondo e estrondo, mais que luz, mais que sol, é guerra, é natureza sem fogo, carne sem brasa, é brasa pura, é real, verdade real, é escuro e sombrio, é mundo, é céu em guerra, é céu em chuva, é Iansã, “deusa pagã dos relâmpagos, das chuvas de todo ano dentro de mim”, dando ordens de batalha, é meu verde na noite em ira com o cinza que lhe oculta a vista e o coração, é tempestade, é o sangue contra o ouro tingido de dor, de insônia. Sou eu contra o ocidente manchado.
Trojdens Desmond